Pietà
Nossa Senhora da Piedade
Coimbra, Coimbra, Portugal
Museu Nacional de Machado de Castro
Igreja e Colégio de S. Bento, Coimbra
Museu Nacional de Machado de Castro
1685-1690
Frei Cipriano da Cruz (escultor) (1645?, Braga–1716, Braga); Manuel da Costa Pereira (pintor e dourador).
MNMC1969, E298
Madeira de castanho, entalhada, dourada e policromada, com punção, esgrafitado e bordados de aplicação em cera-resina.
Altura: 137cm;largura: 152 cm; diâmetro: 64,5 cm
Barroco português / Escultura conventual (beneditina).
Igreja e Colégio de S. Bento, Coimbra.
Conjunto escultórico pertencente a estrutura retabular.
Coimbra.
A preferência por esculpir imagens de grandes dimensões, para ocuparem retábulos imponentes, inteiramente dourados, revela Frei Cipriano da Cruz como o mais notável monge-escultor português e um dos melhores representantes da escultura barroca nacional.
Baseada em modelos que circulavam por toda a Europa, e integrada no contexto da Crucificação e Morte de Cristo, a Pietà é uma das suas melhores realizações. Representa um tema amplamente difundido a partir do século XVI e bastante explorado na arte portuguesa de seiscentos, que revela o essencial do pensamento tridentino.
Faz parte do conjunto de obras que o monge realizou para decorar a igreja do colégio da sua Ordem, em Coimbra, a Igreja de S. Bento, demolida em 1932.
Este conjunto escultórico apresenta pormenores anatómicos característicos do escultor, essencialmente nas mãos e nos rostos – mãos grosseiras com unhas quadradas, rostos marcados por cabelos e barbas fartos e encaracolados em SS, no caso de Cristo, e na Virgem, o olhar pesado, as sobrancelhas altas e simétricas, o nariz comprido e triangular, os lábios pequenos, finos e bem definidos.
A composição, maciça e de estrutura piramidal, é marcada pelos largos panejamentos, em tons de vermelho, azul e ouro, com destaque para o manto, que constitui um dos maiores interesses da obra, dado que apresenta motivos decorativos que reproduzem os têxteis da época – ricos brocados ou sedas orientais, geralmente designados por “estofado”. Destaca-se o motivo da alcachofra, imitando o brocado de três altos, de origem italiana ou espanhola, colocado estrategicamente no joelho da Virgem e na parte superior do manto, zonas de maior impacto visual para o observador. Os bordados eram pré-elaborados, em cera-resina, e aplicados após a realização da policromia das superfícies.
Esta obra foi recentemente atribuída a Manuel da Costa Pereira, num estudo (Alcoforado, A. e Le Gac, A., 2003) que aponta as características comuns e inconfundíveis da produção do escultor, identificando igualmente os pintores que trabalharam naquela empreitada.
Esta Pietà foi concebida à escala da estrutura arquitectónica em que se inseria. Tendo como fundo os elementos tradicionais da Descida da Cruz, bem como construções alusivas a Jerusalém, facilmente deduzimos que a Cruz teria proporções imponentes e a visão do conjunto seria cenograficamente monumental.
Documentos arquivísticos: contrato de entalhe, contrato de douramento e de pintura.
Por transferência, em consequência da extinção das ordens religiosas.
Smith, R. C., Frei Cipriano da Cruz, Escultor de Tibães. Elementos para o estudo do Barroco em Portugal, Barcelos, 1968.
Moura, C., “Uma poética da refulgência: a escultura e a talha dourada”, in História da Arte em Portugal, VIII, Publicações Alfa, Lisboa, 1986.
Moura, C., “Frei Cipriano da Cruz Sousa”, in Dicionário da Arte Barroca em Portugal, dir. Pereira, J. F. e Pereira, P., Lisboa, 1989.
Alcoforado, A. e Le Gac, A., Frei Cipriano da Cruz em Coimbra, Coimbra, 2003.
Alcoforado, A., “Imagens e símbolos esculpidos”, Museu Nacional de Machado de Castro - Roteiro, ed. Instituto Português de Museus, Lisboa, 2005, 46-68.
Direitos de autor fotografias: Divisão de Documentação Fotográfica/ Instituto dos Museus e da Conservação, I.P.
Ana Alcoforado "Pietà" in "Discover Baroque Art", Museum With No Frontiers, 2024. https://baroqueart.museumwnf.org/database_item.php?id=object;BAR;pt;Mus11_A;14;pt
Número interno MWNF: PT 17
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