Santuário de Nossa Senhora de Aires
Viana do Alentejo, Évora, Portugal
1744–1760
Autor do projecto: Padre João Baptista (activo 1743), oratoriano de S. Filipe Neri, de Estremoz; construtor: Mestre Manuel Antunes; mestre de pedraria: Manuel Gomes, coordenando vários artistas da zona: oficiais António Ferreira Esteves, Gonçalo António da Silva, Manuel Madeira, André Melro e António Monteiro; datas desconhecidas.
Arquitectura religiosa, santuário de peregrinação.
Local de profunda devoção dos peregrinos, que ali acorriam para cumprimento de votos e novenas a Nossa Senhora de Aires, no Outono. Devido à afluência de gente, o Senado Vianense obteve de D. José I o alvará de 27 Setembro de 1751, assinado pelo Marquês do Pombal, instituindo a feira franca de Nossa Senhora de Aires. Substituiu-se, por isso, o antigo templo quinhentista por um mais grandioso, presidido pelo reitor Padre José Peres.
O arcebispo D. Frei Miguel de Távora aprovou a planta e iniciou-se a construção em Julho de 1743. A bênção e a inauguração solene tiveram lugar em 15 de Março 1760, com a igreja incompleta. As obras só terminaram em 1804, tendo-se realizado a segunda sagração a 13 de Maio desse ano.
Edifício projectado pelo Padre João Baptista, virado a poente, com uma silhueta rococó, na qual ressaltam os contrastes de luz e sombras dos mármores, com os arcos emoldurados de escaiolas coloridas, segundo a tradição alentejana. A fachada, com frontão triangular e grades de ferro, é flanqueada por duas torres sineiras com carrilhão de 1955 e nichos rasgados. A portada rococó do templo tem um pequeno relógio de sol de calcário branco de fins do século XVIII sobre o arco lateral direito do pórtico.
O zimbório, dominando todo o conjunto, é iluminado por quatro amplos janelões. A nave é dividida em três tramos, separados por falsas pilastras. Tem dois púlpitos e duas tribunas para convidados erguidas nos tramos centrais, fechadas por gradeamentos batidos. No interior, os azulejos são do princípio do século XIX.
A capela-mor, construída entre 1744 e cerca de 1750, com planta sensivelmente circular, é rasgada por quatro arcos redondos de cornijas salientes, suportadas por colunas de mármore branco raiado de azul. Nas quatro faces da capela, assentes em peanhas rococó, estão expostas imagens dos quatro Evangelistas, de madeira dourada, do escultor João Baptista.
O baldaquino de talha dourada coroa a imagem de Nossa Senhora de Aires, peça gótica, de pedra de Ançã, policromada, de fins do século XV.
A sacristia, de planta octogonal, cuja construção se iniciou em Outubro de 1743, é revestida de pinturas neo-clássicas pombalinas do lado esquerdo.
O Santuário de Nossa Senhora de Aires, desenhado pelo Padre oratoriano João Baptista e local alentejano de profunda devoção, é um magnífico exemplo de uma igreja barroca em meio rural. Virado a sul, apresenta uma silhueta rocaille que se destaca na paisagem pelo contraste de luz e sombras da fachada e pela decoração com escaiolas coloridas, típicas da tradição alentejana. Tem uma fachada com duas torres simétricas, planta em cruz latina e o interior decorado com estuques e pinturas murais.
Documentação e análise estilística.
Fachada
1755
Manuel Antunes [n.d.]
Portada rococó, de 1755, com lintel recortado em alto-relevo e folhagem de grinaldas de flores, palmetas, vieiras, coroada por monograma mariano.
Interior
C. 1858
Desconhecidos
Pinturas murais em trompe l'œil sobre Nossa Senhora de Aires decoram o tecto da igreja e, nas paredes, evocam a Ladainha de Nossa Senhora.
Interior
C. 1751–1760. Imagem Nossa Senhora dos fins do século XV
Desconhecido
Sob a cúpula, no eixo da capela-mor, o altar-mor com o baldaquino de talha dourada e pilastras retorcidas de estilo rococó, termina em falsa cúpula, coroando a imagem de Nossa Senhora de Aires.
Interior da igreja
C. 1745. Pintura do século XIX
Padre João Baptista [n.d.] e Manuel Gomes
A cúpula hemisférica é iluminada por quatro janelões e outros tantos cegos, decorados com sanefas de flores e estuques coloridos, de inspiração rococó. As trompas da cúpula apresentam, em cartelas, os quatro doutores da igreja: São Jerónimo, Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Gregório.
Leal, P., Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1893.
Espanca, T., “Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora”, in Santuário de Nossa Senhora de Aires, Cidade de Évora, nº. 60, Lisboa, 1978.
Cristina Correia "Santuário de Nossa Senhora de Aires" in "Discover Baroque Art", Museum With No Frontiers, 2024. https://baroqueart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;BAR;pt;Mon11;7;pt
Número interno MWNF: PT 07