Casa do Corpo Santo
Casa do Corpo Santo (Museu do Barroco)
Setúbal, Setúbal, Portugal
1714 (palácio primitivo do século XVII)
Arquitecto desconhecido. Painéis de azulejos com assinatura “P.M.P.”, provavelmente do Mestre Padre Manuel Pereira [n.d.].
Arquitectura palaciana (com capela).
Confraria dos navegantes, armadores e pescadores de Setúbal. Esta Confraria existe desde o século XIV (com Livro de Compromissos de 1340) e é também chamada Confraria do Corpo Santo, nome pelo qual era conhecido Santo Elmo ou S. Pedro Gonçalves, orago da Confraria e santo protector dos náufragos.
O palácio da família Cabedo data dos séculos XVII/XVIII e foi construído em estruturas já existentes no século XVI, conforme recentes escavações arqueológicas o mostraram. Esta casa, anexada ao Palácio Cabedo, fazia parte deste e foi oferecida, pela família, à Confraria para aí se instalar a Confraria do Corpo Santo. Após o desaparecimento desta confraria (no século XIX), o edifício alojou outras associações marítimas, como a Sociedade Setubalense de Pescaria Franciscana e o Monte-Pio da Corporação Marítima da Casa do Corpo Santo.
A Casa do Corpo Santo é tutelada pela Câmara Municipal de Setúbal, funciona como Museu do Barroco e tem ali instalada uma exposição de instrumentos de ciência náutica.
O palácio da família Cabedo, dos séculos XVII/XVIII, no qual a Casa do Corpo Santo se anexa, é um belíssimo exemplar da arquitectura civil portuguesa.
A entrada para a Casa do Corpo Santo é feita por um pátio, com paredes revestidas a azulejos azul-cobalto que acompanham a parede da escadaria de acesso ao primeiro piso. No início das escadas, uma figura de convite, pintada sobre azulejos, recebe os visitantes.
Na entrada, existem duas salas com paredes revestidas com painéis de azulejos azul-cobalto, representando cenas de caça, aristocráticas e do quotidiano. Ambas as salas têm tectos pintados. Na sala de entrada ou Sala do Vestíbulo, encontra-se um tecto pintado sobre madeira, com uma nau ao centro, símbolo das actividades da Confraria. Na sala seguinte, ou Sala do Despacho, o tecto pintado a têmpera mostra imagens de Santelmo.
Na sala de entrada, existe uma pequena Capela totalmente forrada a talha dourada e com as paredes revestidas de azulejos, retratando a vida de Santelmo ou Santo Elmo.
Trata-se de um edifício exemplar do Barroco, com as paredes revestidas a azulejos azul-cobalto, provavelmente de autoria de Mestre P.M.P.
O piso de tijoleira alterna com azulejos de figura avulsa, complementado com tectos ricamente pintados. A pequena capela está totalmente revestida de talha dourada, com bustos-relicários incrustados nas paredes, numa admirável solução de aproveitamento do espaço.
Na porta de entrada para o pátio está gravada a data de 1714. Confirmou-se a existência do palácio original quinhentista mediante informação recolhida em escavações arqueológicas.
Entrada do edifício
1700–1714
Arquitecto desconhecido. Pintura de azulejos pelo Mestre P.M.P., provavelmente Padre Manuel Pereira (n.d.)
O pátio, com escadas para o primeiro piso, cria um espaço de entrada requintado, decorado com azulejos figurativos. Uma figura de convite surge no início do percurso das escadarias, continuando a decoração em azulejos com elementos arquitectónicos, putti e vasos com flores.
Entrada do pátio, no início da escadaria
1700–1714
Arquitecto desconhecido. Pintura de azulejos pelo Mestre P.M.P., provavelmente Padre Manuel Pereira (n.d.)
Figura de Convite pintada a azul-cobalto sobre azulejo branco. A personagem usa um traje típico do início do século XVIII, não tem armas e adopta uma postura de convite, com o chapéu na mão. Provavelmente, a personagem representa um porteiro ao serviço da confraria.
Interior. Sala de entrada
1700–1714
Mestre P.M.P., provavelmente Padre Manuel Pereira (n.d.)
Painel de azulejos representando uma caçada aristocrática do início do século XVIII, com elegantes senhoras e cavalheiros a montar cavalos, provavelmente da raça Lusitana. Este painel faz parte do conjunto de painéis da sala de entrada, todos com cenas de caçadas aristocráticas. A moldura do painel, com elementos arquitectónicos e decorativos, é típica da azulejaria barroca.
Interior. Sala de entrada
1714–1720
Mestre P.M.P., provavelmente Padre Manuel Pereira (n.d.)
A assinatura P.M.P. é provavelmente a assinatura de Padre Manuel Pereira. Clérigo e arquitecto amador (desenhou o palácio da família de Tristão da Cunha, no século XVIII), foi um prolífico pintor de azulejos. O Padre Manuel Pereira foi patrono de muitas oficinas de Lisboa e tinha vários discípulos que produziam azulejos para palácios e igrejas em todo o território de Portugal e no Brasil.
Interior
1714–1720
Desconhecido
A sala de entrada está ornamentada com um tecto pintado sobre madeira, decorado com motivos florais. Ao centro, uma nau portuguesa invoca Santelmo, o santo padroeiro da Confraria.
Na segunda sala, o tecto pintado a têmpera mostra imagens de Santelmo, entre motivos florais.
Na capela, completamente forrada a talha dourada, ao “Estilo Nacional”, sobressaem os bustos-relicários incrustados nas paredes, os painéis de azulejos com cenas da vida de Santelmo e o pavimento de tijoleira com aplicação de azulejos de motivos florais.
Smith, R., "French models for Portuguese Tiles", in Apollo, 134, 1973, pp. 396-407.
Simões, J., Azulejaria em Portugal no século XVIII, Lisboa, 1979.
Arruda, L.,”Figuras de Convite”, in Azulejaria Barroca Portuguesa, Lisboa, 1993.
Neto, J. L., et al., “O Pátio da Casa do Corpo Santo, da Intervenção Arqueológica à Museológica”, in Subsídios para o Estudo da História Local, Vol. I., CMS, 2001.
Cândido, M. J., Neto, J. L., Relatório da Intervenção Arqueológica na Casa do Corpo Santo, Setúbal, 2009.
Direitos de autor fotografias: Casa do Corpo Santo, Câmara Municipal de Setúbal.
Luisa Arruda, Fernando António Baptista Pereira, Maria João Cândido "Casa do Corpo Santo" in "Discover Baroque Art", Museum With No Frontiers, 2024. https://baroqueart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;BAR;pt;Mon11;29;pt
Autoria da ficha: Luisa ArrudaLuisa Arruda
APELIDO: Arruda
NOME PRÓPRIO: Luisa
LOCAL DE TRABALHO: Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa
CARGO: Professora Associada e Investigadora
CV:
Luísa Arruda é Professora Associada e Investigadora da Faculdade de Belas Artes, da Universidade de Lisboa. Artista e Historiadora de Arte, a sua investigação e as suas publicações versam sobre Arte, Arquitectura, Desenho e Artes Decorativas Portuguesas., Fernando António Baptista Pereira, Maria João Cândido Maria João Cândido
APELIDO: Cândido
NOME PRÓPRIO: Maria João
LOCAL DE TRABALHO: Museu de Setúbal/Convento de Jesus
CARGO: Coordenadora do Museu de Setúbal/Convento de Jesus e Casa do Corpo
Santo, Setúbal
CV:
Licenciada em Arqueologia, é Coordenadora do Museu de Setúbal /Convento de Jesus e Casa do Corpo Santo, em Setúbal. Efectua escavações arqueológicas na cidade de Setúbal e colabora na realização de exposições em Museus locais. Tem desenvolvido trabalho de investigação em Arqueologia, Desenvolvimento da Cidade e História Local.
Número interno MWNF: PT 29